ENSINA-ME A VIVER

A surpresa do final de semana foi a peça Ensina-me a viver ,sucesso no cinema em 1971,quando eu nem havia nascido...rsrs com o nome de Harold and Maude,é uma das mais inusitadas e emocionantes histórias de amor do século 20 e com ensinamentos que sobrevivem ao tempo.
"Ensina-me a viver" é uma cativante lição de vida, narrada com a alegria bizarra de uma comédia negra. Harold ( vivido brilhantemente por Arlindo Lopes) é um jovem de vinte anos que tem uma paixão macabra pela morte e todas as suas formas de manifestação. Diverte-se fingindo suicídios cujas encenações não conseguem atrair a atenção de uma mãe distante (mas, simultâneamente, demasiado interventiva na sua vida, substituindo-o constantemente na apreciação das suas necessidades). Gosta de assistir a funerais bem como a outras formas terminais de destruição, como a demolição de prédios. Para carro pessoal compra um veículo funerário...Todo o seu comportamento é um reflexo fiel da sua personalidade melancólica, obcecada com uma vontade doentia de conviver de perto com a morte. A mãe de Harold( vivida por Stella Maria Rodrigues) é uma personagem irreal e incrivelmente divertida na maneira de lidar com as sucessivas mortes virtuais do filho. A cena de abertura é hilariante, quando ela entra na sala e, com uma indiferença perturbadora, ignora o filho que jazia suspenso no ar, enforcado, fazendo o seu telefonema sem alterar a postura. Ela já conhecia a arte do filho, mas nós não, era o nosso primeiro encontro e todo aquele ritual de preparação do suicídio parecia-nos demasiado real, para ser interrompido assim, tão levianamente. Ignorá-lo era a atitude mais frequente da mãe que, contudo, não declinava à sua apetência de se imiscuir na vida dele. Primeiro, chega à conclusão de que Harold necessitava de auxílio psiquiatra; depois entende que estava na altura de modificar certos comportamentos (arranjar uma noiva através de uma empresa especializada nesse tipo de eventos; substituir o automóvel; procurar a ajuda do tio, sargento do exército, para o encaminhar na vida militar...). No psiquiatra, Harold deita-se no divã como um morto no seu caixão, a ouvir as palavras inconsequentes do especialista. As candidatas a noiva( a surpresa da peça, vividas por Fernanda de Freitas) foram sucessivamente "eliminadas" depois de assistirem às exibições macabras de Harold para as conquistar (a primeira assiste, histérica, à incineração de Harold; a segunda testemunha a amputação de uma mão com um cutelo; a terceira uma atriz decadente, é espectadora de um haraquiri e a mais engraçada e preparada para lidar com Harold ao ponto dele sentir medo dela ....rsrsrs). A mãe nesta altura se vê em pânico e o encaminha para a carreira militar que ficou comprometida após a encenação que bolou com a cúmplice, Maude, uma peça em que ele demonstrava perante o tio todo o seu desejo entusiasta de combater para poder dar largas à sua veia de carrasco inquisitorial. O tio assustou-se com tanta dedicação . O encanto todo vem por meio de Mude , uma jovem de 79 anos que ama a vida ,aproveita cada segundo de sua existência como se fosse o último.
As suas histórias cruzaram-se durante uma das cerimónias fúnebres que os dois frequentavam assiduamente, embora por motivos diferentes. Para Maude, o ciclo da vida para se completar necessitava dessa derradeira etapa que era a morte. Uma vida vivida na sua plenitude não podia temer esse último repouso. Para ela, a morte era encarada com a alegria natural de quem já gozou o máximo. É esta alegria que ela vai transmitir a Harold, o desejo de viver, de ganhar asas e aproveitar a curta passagem por este mundo... Estes dois excêntricos personagens vão acabar por cimentar uma forte amizade. Maude ensina a Harold a ver a vida através dos seus olhos apaixonados e ele acaba por descobrir que a amava (à vida e a Maude). Descobre que encontrara a noiva que tanto procurara e decide enfrentar os comentários inflamados da mãe, do tio militar, do padre e do psiquiatra que, com as suas teorias Freudianas, tentava explicar as razões de tamanha aberração. No dia em que completava 80 anos, Maude decide concretizar o que um dia se propusera: a vida tem beleza enquanto há energia para desfrutá-la; 80 anos era uma bonita idade para completar em glória esta aventura. Tomou comprimidos suficientes para não voltar a acordar e partiu... Harold fica descontrolado e pela última vez, simulou um suicídio. Ele abandona a cena a tocar o banjo que Maude lhe dera...
A montagem é de João Falcão que verteu o filme em peça a partir da tradução de Millôr Fernandes, a convite de Arlindo Lopes. A cenografia ficou a cargo de Sérgio Marimba e impressiona pelos efeitos especiais. Na película de Ashby, a libertária Maude vive num vagão de trem. Na peça de Falcão, num velho teatro abandonado, a adaptação do João em relação à tradução do Millôr é o grande achado desse espetáculo. Ele não é realista, ele é mágico. São cortinas que se movem de um lado para o outro, dando uma movimentação incrível, e a luz também é muito participante, é outro personagem o que conseguimos ver ali é uma soma de acertos, contando ainda com Renato Machado (iluminação), Rodrigo Penna (trilha sonora) e Kika Lopes (figurino).
“Ensina-me a Viver” é uma tocante e bem-humorada história de descobertas, que leva o espectador a acreditar que simplificar a vida é sempre o melhor caminho,a peça é uma estória que todos saem de lá com uma mensagem de vida surpreendentemente forte e um ensinamento lindo de como a vida pode nos proporcionar momentos simples, pequenos e únicos.A difícil tarefa de unir boas gargalhadas e suspiros emocionados foi cumprida com maestria pelo diretor e atores. A mistura entre humor e delicadeza poética resultaram em um espetáculo indispensável não só aos mais sensíveis mas a todos que conservam o sentimentalismo comum ao ser humano.
Teatro é uma paixão. Teatro bem feito, é um orgulho!

Onde:
TUCA
Nova Temporada :
06 de Agosto a 10 DE Outubro
Horários:
sextas e sábados às 21h30, domingos às 19h00
Duração:
1h50
Recomendação:
12 anos
Valor do ingresso:
R$ 30,00 (Desconto de 50% para Estudantes, Maiores de 60 anos, Aposentados)

Comentários

  1. Olá Maga!

    Tudo bem?

    Adorei o seu texto a respeito do nosso espetáculo. Você é uma ótima escritora.

    Foi um prazer ter te descoberto...essas maravilhas da internet...rs

    Obrigado pelo o que escreveu, vai ficar guardado em nosso registro.

    Um grande beijo e até!

    Arlindo Lopes.

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  2. Maguinhaaaaaa, vc é sensacional!!!! com o comenario do mestre ficou melhor ainda!!!
    bjs

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  3. Arlindo Lopes ,
    Muito obrigada pelo belo comentário e o prazer é todo meu em saber que pessoas como vc lêem meu simples blog, para mim isto é motivo de orgulho.
    Tentei achar vc para agradecer, mas como não conseguir achar estou agradecendo por aqui e espero que vc veja.
    Meu muito obrigada pela consideração.
    beijo grande

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  4. Oi Maga!!!!

    Desculpe...sou um E.T. mesmo, tanto tempo depois e só ver o seu comentário agora! rsrsrs...não estou em nenhum desses sites de relacionamento..Orkut, Facebook, Twitter... fica difícil mesmo me achar....quem sabe um dia eu mudo...rs

    Mais uma vez obrigado.

    MERDA!

    Um bjo!

    Arlindo.

    Bjo pra Isabel tb!

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  5. Maga!!! Que texto fantástico!!!

    Deu muita vontade de assistir o filme, a peça, e poder mergulhar nesse universo de coisas que você me levou lendo o texto.
    Muito bom!!! Muito bom mesmo!!!

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