SINCERIDADE


Um amigo nos tempos de faculdade me sugeriu que procurasse expressar uma atitude mais positiva em relação à vida perante outras pessoas. Ele achava que eu não deveria ser tão sincera não só ao responder a cumprimentos banais do tipo "tudo bem?", mas á todas as outras coisas. Ninguém quer saber se você está deprimida, dura ou desesperada atrás de um emprego, ele explicou. O que as pessoas esperam ouvir, ensinou meu amigo, é uma resposta afirmativa.

Segui o conselho de meu amigo. Deixei de expressar meu descontentamento com a vida, o trabalho ou minha vida afetiva quando alguém me pergunta se está tudo bem. Mesmo se a pergunta vem de um amigo e invariavelmente se ela é feita num ambiente social. De vez em quando reclamo, choro e me lamento quando algo está me incomodando muito, quando não consigo imprimir no meu tom de voz uma sensação de bem-estar, nem mesmo para responder "tudo bem". Mesmo assim, prefiro dizer que estou trabalhando muito, o que as pessoas sempre acham ótimo.

Ninguém gosta de estar perto de uma pessoa que traz uma nuvem negra na cabeça por onde quer que vá. Não que a maioria das pessoas seja egoísta, individualista. É muitas vezes uma questão de sobrevivência. A vida não está fácil pra ninguém. Como enfrentar os meses sem dinheiro, amor, saúde ou nem mesmo a perspectiva de que as coisas vão melhorar? Nessas circunstâncias, uma resposta negativa a uma pergunta formal pode produzir um efeito semelhante àqueles espelhos dos parques de diversão que distorcem a imagem das pessoas. Ou mesmo um espelho de provador de roupa que revela uma imagem que você não quer ver.

No entanto, é preciso estar mais atento aos códigos, conscientes ou inconscientes, transmitidos pelas pessoas que estão ao nosso lado. Numa sociedade em que é tão importante manter as aparências, não por hipocrisia, mas como um instrumento de marketing pessoal, que pode transformar a imagem que as pessoas têm de você, valorizando o que você tem de melhor, é ainda mais importante cultivar a sensibilidade, aguçar os sentidos, ter a capacidade de perceber nas outras pessoas aquilo que às vezes escondemos até de nós mesmos.

Pensando nisto tudo, depois de muito tempo e de nem mesmo ver mais este amigo percebi que às vezes é importante sorrir quando tenho vontade de gritar que a vida não pode ser levada no 8 ou 80 como muitas vezes eu fiz, mas que também por outro lado é mágico e incrível conseguir ser você mesma em um mundo onde todo mundo sempre esconde alguma coisa, tudo bem não precisa dizer para um estranho como o dia esta ruim quando ele educadamente só te falou bom dia, mas também não tente forçar demais rindo loucamente e fingindo que esta tudo bem sempre.

Ao meu velho amigo Rafa eu só posso dizer que com o tempo eu ando aprendendo a ser eu mesma , ligando menos com o que os outros achem , tentando manter minha criança viva e percebendo que muitas vezes a gente só precisa de um belo copo de água gelado em um dia de calor o resto nem é tão importante assim. Aprender a ser você é uma delicia em um mundo tão robô.

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