Quando a dia amanheceu mais triste e ficou mais cego com a morte de Saramago.

Fiquei um tempo fora do ar, por necessidade forçada, mas foi bom para mim e voltando a escrever não podia deixar de lembrar de um fato muito triste que aconteceu no dia 18 de Junho,quando a dia amanheceu mais triste e ficou mais cego com a morte de Saramago.
Lembrei-me naquela sexta-feira o "homem brilhante" que, com sua morte deixou o mundo "mais burro e mais cego".Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre estar aqui e já não estar.

A morte, finalmente, encontrou-o. Para aqueles que não tiveram, ainda, o privilégio de ler Saramago, deixo algumas linhas de seu livro “As intermitências da morte”:

“A morte repetiu o gesto e foi como se os seus finos dedos tivessem ido pousar-se sobre a mão que movia o arco. Apesar de o coração ter feito tudo quanto podia para que tal sucedesse, o violoncelista não errou a nota. Os dedos não tornariam a tocar-lhe, a morte tinha compreendido que não se deve nunca distrair o artista na sua arte. Quando o concerto terminou e o público rompeu em aclamações, quando as luzes se acenderam e o maestro mandou levantar a orquestra, e depois quando fez sinal ao violoncelista para que se levantasse, ele só, a fim de receber o quinhão de aplausos que por merecimento lhe cabia, a morte, de pé no camarote, sorrindo enfim, cruzou as mãos sobre o peito, em silêncio, e olhou, nada mais, os outros que batessem palmas, os outros que soltassem gritos, os outros que reclamassem dez vezes o maestro, ela só olhava.”

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